29.3.09

Optimismo na Educação

Reli e gostei bastante do conceito. Penso que precisamos de mais optimismo na educação. É difícil, mas é possível termos um espírito mais positivo, que certamente influenciará não só as nossas práticas, mas também o contacto com colegas e educandos. As palavras-chave (e muito positivas) ficam destacadas.

O Educador Optimista é aquele que:

- por melhor que seja pode sempre melhorar;
- acredita que a mudança é possível em qualquer momento da carreira profissional e da vida;
- sabe que a forma como olha, interpreta e sente a realidade determina em muito essa mesma realidade;
- em Portugal vai contra a cultura do desânimo e da crítica;
- olha para o futuro, mais do que para o passado;
- acredita que "o destino não está marcado";
- acredita que pode - e deve - transformar sonhos em realidades;
- se conhece bem e que sabe o que faz e porque o faz; é por isso que transforma cada acto educativo numa tomada de decisão bem aliçercada;
- "pensa positivo", vendo o melhor e esperando o melhor;
- sabe que os insucessos podem ser experiências de aprendizagem óptimas;
- gosta de si, se aprecia e se auto-elogia;
- atenta na construção da imagem positiva dos seus educandos e se assegura que eles acreditam nas suas potencialidades, valorizando-os permanentemente, aceitando-os nas suas insuficiências e perdoando-os nas suas imperfeições;
- sabe que os outros têm sempre boas razões para se comportarem como se comportam, e que mesmo nas pessoas ou situações mais difíceis é possível ver talentos e excelências;
- sabe que as melhorias têm que começar por si próprio;
- sabe comunicar com eficácia, ouvindo-se interiormente e ouvindo mais do que falando, respeitando mais do que impondo;
- sabe transformar problemas em desafios e limitações em energia geradora de soluções;
- transmite e vivencia, com o corpo e as palavras, alegria, felicidade e entusiasmo.

Adaptado de Marujo, H., Neto, L. & Perloiro, M. (2004). Educar para o Optimismo. Lisboa: Editorial Presença.

23.3.09

2000 visitas

Em apenas dois meses, este simples espaço recebeu 2000 visitas. Sei que muitas representam pessoas, colegas, amigos que me visitam diariamente. Criei este blog com o objectivo despretencioso de partilhar algumas experiências como Profissional de RVC. Nem sempre as publico, mas o que é certo é que cada dia é marcado pelos adultos que acompanho de uma forma muito especial. Há dias difíceis, sem dúvida, em que a esperança parece falhar, em que acreditar é um esforço, quando devia ser algo natural, mas há que encontrar o momento mágico que todos os dias têm. Essa magia vem sempre das pessoas com quem me tenho cruzado nestes percursos da vida.
Obrigada pela luz que têm trazido aos meus caminhos!

22.3.09

Como respondemos à adversidade?...



A Cenoura, o Ovo e o Café

Uma filha queixou-se ao pai sobre a sua vida e de como as coisas estavam difíceis. Já não sabia mais o que fazer e queria desistir. Estava cansada de lutar e combater. Parecia que assim que um problema estava resolvido, um outro surgia. O seu pai, um "chef", levou-a até à cozinha.
Encheu três panelas com água e colocou cada uma delas em fogo alto. Logo as panelas começaram a ferver. Numa colocou cenouras, noutra ovos e, na última, pó de café. Deixou que tudo fervesse, sem dizer uma palavra.
A filha deu um suspiro e esperou impacientemente, imaginando o que estaria ele fazendo.
Cerca de vinte minutos depois, ele apagou as bocas de gás. Pescou as cenouras e colocou-as numa tigela. Retirou os ovos e colocou-os noutra tigela. Então, pegou o café com uma concha e colocou-o numa chícara. Virando-se para ela, perguntou:
- Querida, o que estás a ver?
- Cenouras, ovos e café - respondeu a filha.
Ele trouxe-a para mais perto e pediu-lhe para experimentar as cenouras. Ela obedeceu e notou que as cenouras estavam macias.
Então, pediu-lhe que pegasse num ovo e o partisse. Ela obedeceu e, depois de retirar a casca, verificou que o ovo endurecera com a fervura.
Finalmente, ele pediu-lhe que tomasse um gole do café. Ela sorriu ao provar o seu aroma delicioso.
Ela perguntou humildemente: "O que significa isto, pai?"
Ele explicou que cada um deles havia enfrentado a mesma adversidade, água a ferver, mas que cada um reagira de maneira diferente. A cenoura entrara forte, firme e inflexível. Mas depois de ter sido submetida à agua a ferver. ela amolecera e tornara-se frágil. Os ovos eram frágeis. A sua casca fina havia protegido o líquido interior. Mas depois de terem sido colocados na água a ferver, o seu interior tornou-se mais rijo. O pó de café, contudo, era incomparável. Depois de ter sido colocado na água a ferver, havia mudado a própria água.
- Qual deles és tu? - perguntou o pai.
- Quando a adversidade bate à tua porta, como respondes? - continuou.

Você é uma cenoura, um ovo ou um pó de café?


Adaptado de Ângela Escada, Auto-Estima do Formador

Mudança

Esta música faz-me lembrar o processo de (auto)transformação por que passa quem tem a coragem de realizar um balanço de competências... Um processo que começa, obrigatoriamente, dentro de si próprio e que conduz ao autoconhecimento. Porque conhecermo-nos é, de facto, a mais difícil, mas também a maior conquista que podemos fazer!

21.3.09

Dia Mundial da Poesia

Louvor do Aprender

Aprende o mais simples! Pra aqueles
Cujo tempo chegou
Nunca é tarde de mais!
Aprende o abc, não chega, mas
Aprende-o! E não te enfades!
Começa! Tens de saber tudo!
Tens de tomar a chefia!

Aprende, homem do asilo!
Aprende, homem na prisão!
Aprende, mulher na cozinha!
Aprende, sexagenária!
Tens de tomar a chefia!

Frequenta a escola, homem sem casa!
Arranja saber, homem com frio!
Faminto, pega no livro: é uma arma.
Tens de tomar a chefia.

Não te acanhes de perguntar, companheiro!
Não deixes que te metam patranhas na cabeça:
Vê c'os teus próprios olhos!
O que tu mesmo não sabes
Não o sabes.
Verifica a conta:
És tu que a pagas.
Põe o dedo em cada parcela,
Pergunta: Como aparece isto aqui?
Tens de tomar a chefia.


Bertold Brecht
Tradução de Paulo Quintela

19.3.09

Não vou por aí...

Cântico Negro

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui"!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha Mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Por que me repetis: "vem por aqui"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis machados, ferramentas, e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe.
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
- Sei que não vou por aí!


José Régio

18.3.09

Quem são os analfabetos afinal?...

Hoje tive uma experiência marcante, para juntar a tantas outras que vou vivendo nos percursos da vida. Hoje bateu-me à porta um senhor. Estava muito sujo, de barba por fazer, primeiro pensei (no pensamento estúpido que vamos formando na rotina dos dias...) que se tivesse enganado. Mas não, era mesmo para o Centro, percebi-o assim que se sentou e me disse, com um olhar vivo e brilhante, que há muito tempo que ouvia um anúncio na rádio por "causa de se voltar à escola". O mesmo olhar que reconheço sempre em quem tem curiosidade, em quem quer aprender, sempre mais e mais, contra o fatalismo da idade ou das convenções sociais. O senhor não tem quaisquer habilitações, não sabe ler nem escrever, apenas assinar o nome numa escrita rudimentar, que fez questão de me mostrar no novíssimo Cartão do Cidadão. Pegámos nesse mesmo cartão para tentar ver o que sabia o senhor afinal. Soletrou com orgulho: P-O-R-T-U-G-A-L. Não sabe juntar as letras, por isso, apesar de as soletrar, não sabia que ali estava escrito o nome do seu país. Fiquei esmagada. Não por ser a primeira vez que contactava com uma pessoa analfabeta ou por achar que não existem (há quem diga por aí que o analfabetismo em portugal é "residual..."). Felizmente vivo no mundo real, real demais. No mundo em que há um senhor de 68 anos que me diz: "tem-me feito mais falta ler e escrever do que o pão". No mundo em que no ano passado, recentemente, não foi autorizado um curso de alfabetização para 9 (N-O-V-E) pessoas. Porque eram só N-O-V-E. Não hei-de descansar enquanto essas nove pessoas, mais o senhor Artur, mais outras que estejam "perdidas" noutras instituições tenham a OPORTUNIDADE de ter o direito fundamental de aprender a ler e a escrever. Quando lhe disse que, neste momento, não tinha resposta para lhe dar, o senhor chorou e disse "nós é que precisávamos! tem-me feito tanta falta! eu não pude mesmo estudar, com 4 anos já andava a criar cabras". Este é o Portugal real, fora dos gabinetes onde se decide a certificação e/ou a qualificação. Deixei-me estar com o senhor Artur, sem olhar para o relógio, sem pensar em sistemas informáticos que tentam controlar o nosso tempo. E naquele momento ouvi aventuras vividas em França, em Espanha, e a dureza da vida que o afastou da escola, que agora procura, com 68 anos, disposto a ir "para onde for" para aprender a ler e a escrever. "Vai aprender", respondi-lhe.

16.3.09

Riscos...

De vez em quando, gosto de voltar a reler a bibliografia obrigatória sobre a metodologia de Balanço de Competências. De cada vez que o faço, dou importância a diferentes aspectos que me fazem reflectir novamente, provavelmente sugestionada pela experiência e pelo que de novo vai surgindo no contexto da educação de adultos. Hoje detive-me neste excerto, alertando para alguns dos riscos inerentes à utilização desta metodologia:

«Em segundo lugar, "um balanço de competências não é um conjunto de juízos sobre o nível escolar de um sujeito ou sobre as suas hipóteses de êxito na concretização de um projecto profissional, uma selecção ou uma simples inventariação de saberes e saberes-fazer".
Um dos riscos que aqui se perfila consiste em fazer do balanço de competências um balanço cognitivo ou escolar - assimilando a competência quer às capacidades cognitivas dos sujeitos quer aos seus conhecimentos e diplomas - daí decorrendo um reducionismo cognitivista ou culto dos diplomas.
Um risco complementar do anterior consiste em circunscrever o balanço de competências a um balanço técnico- limitando a competência a um saber-fazer "puramente" técnico, que não toma em consideração o que funda a competência, nomeadamente as capacidades genéricas ou transversais e as motivações - daí resultando um reducionismo tecnicista»

Imaginário, Luís. (1997). Balanço de Competências.

Às vezes dá-me vontade de perguntar onde fica o Balanço de Competências, como metodologia de base, nos processos de reconhecimento de competências, tendo em conta todas as alterações a que temos assistido recentemente. Doze anos depois, este artigo continua a alertar-nos para situações reais, que vivemos actualmente, e que continuam a representar riscos na implementação do BC. Aliás, actualmente, serão tão-somente riscos?...

13.3.09

O tempo na educação de adultos

Há uma ideia que cada vez mais me acompanha. Trabalhar em educação de adultos, aliás, na educação em geral, exige tempo. Um tempo que não é controlado por um relógio, mas pela nossa disponibilidade para estar com o outro. E essa disponibilidade implica uma entrega, uma paixão pelo que se faz. Trabalhar com pessoas é algo muito complexo, mas especial, é um desafio constante, uma aventura sem fim. Não há rotinas nem monotonias, cada dia é diferente. Acima de tudo, o trabalho com adultos exige algo fundamental: o respeito. Respeito pela individualidade, pela experiência de vida, pelo ritmo, pelo tempo que a pessoa necessita. Cada um de nós, profissional, tem na sua mão o poder do que quer fazer com o tempo...

6.3.09

Voar


- Vais voar, Ditosa. Respira. Sente a chuva. É água. Na tua vida terás muitos motivos para ser feliz, um deles chama-se água, outro chama-se vento, outro chama-se sol e chega sempre como recompensa depois da chuva. Sente a chuva. Abre as asas - miou Zorbas.
A gaivota estendeu as asas. Os projectores banhavam-na de luz e a chuva salpicava-lhe as penas de pérolas. O humano e o gato viram-na erguer a cabeça de olhos fechados.
- A chuva, a água. Gosto! - grasnou.
- Vais voar - miou Zorbas.
- Gosto de ti. És um gato muito bom - grasnou ela aproximando-se da beira do varandim.
- Vais voar. Todo o céu será teu - miou Zorbas.
- Nunca te esquecerei. Nem aos outros gatos - grasnou já com metade das patas de fora do varandim, porque, como diziam os versos de Atxaga, o seu pequeno coração era o dos equilibristas.
- Voa! - miou Zorbas estendendo uma pata e tocando-lhe ao de leve.
Ditosa desparaceu da sua vista, e o humano e o gato temeram o pior. Caíra como uma pedra. Com a respiração em suspenso assomaram as cabeças por cima do varandim, e viram-na então, batendo as asas, sobrevoando o parque de estacionamento, e depois seguiram-lhe o voo até às alturas, até mais para além do cata-vento de ouro que coroava a singular beleza de São Miguel.
Ditosa voava solitária na noite de Hamburgo. Afastava-se batendo as asas energicamente até se elevar sobre as gruas do porto, sobre os mastros dos barcos, e depois regressava planando, rodando uma e outra vez em torno do campanário da igreja.
- Estou a voar, Zorbas! Sei voar! - grasnava ela, eufórica, lá da vastidão do céu cinzento.
O humano acariciou o lombo do gato.
- Bem, gato, conseguimos - disse ele suspirando.
- Sim, à beira do vazio compreendeu o mais importante - miou Zorbas.
- Ah sim? E o que é que ela compreendeu? - perguntou o humano.
- Que só voa quem se atreve a fazê-lo - miou Zorbas.
- Suponho que agora te estorva a minha companhia. Espero-te lá em baixo - despediu-se o humano.
Zorbas permaneceu ali a contemplá-la, até que não soube se foram as gotas de chuva ou as lágrimas que lhe embaciaram os olhos amarelos de gato grande, preto e gordo, de gato bom, de gato nobre, de gato de porto.


Luís Sepúlveda, "História de uma Gaivota e do Gato que a ensinou a voar"

Dedico o final desta "história", que fascina e marca todos os que a lêem, à Angelina, à Fátima e à Paula, bem como a todos os adultos que já acompanhei neste processo. É muito gratificante ficar a ver-vos voar, muito emocionada, mas igualmente feliz, como o gato Zorbas. Depois de um percurso feito de lutas e de conquistas, de crescimento e de evolução, de renascimento e de reconstrução, vocês são a prova de que quando as pessoas se atrevem a voar, o conseguem mesmo fazer. Parabéns e obrigada por me deixarem acompanhar o vosso voo!

4.3.09

Encontro na Gafanha da Nazaré

Hoje estive presente num encontro entre Centros Novas Oportunidades e equipas EFA, organizado pelo CNO da Gafanha da Nazaré. Foi, mais uma vez, um encontro com alguns amigos de outros Centros, que vamos encontrando nestes percursos da nossa vida. Um deles foi o Dr. Paulo Antunes, Director do Centro Novas Oportunidades da Escola Secundária de Maximinos, em Braga. É sempre inspirador ouvir o Paulo, pela sua dinâmica, inovação e capacidade de organização do trabalho. E fiquei, uma vez mais, com a ideia que o trabalho que esta escola tem desenvolvido com os Cursos EFA é um modelo com o qual temos muito a aprender. Hoje aprendi imenso. E recordei que é fundamental e necessário ACREDITAR no que fazemos e no que podemos vir a atingir com o que fazemos. É certo que muitas vezes desanimamos, discordamos de algumas orientações, encontramos algumas "pedras no caminho" que quase nos fazem cair, mas se nunca deixarmos de acreditar no que estamos a fazer, tenho a certeza que o faremos o melhor que podemos e sabemos, porque nos entregamos, porque damos o melhor de nós, às vezes (tantas) até mais do que podemos!
Foi esta a mensagem que trouxe deste Encontro: acreditar, porque é possível, porque é já uma realidade e não apenas uma utopia, como tantos continuam a afirmar. E se for uma utopia, que seja, porque acredito que é através do sonhos que podemos ir mais longe.
Os meus sinceros parabéns à equipa da Gafanha da Nazaré pelo encontro intimista que organizou, o que permitiu uma maior partilha de experiências, dúvidas e ideias entre todos os colegas presentes.