31.1.09

Aprender, sempre!


"A sociedade da aprendizagem - que é aquela em que se vive - baseia-se, essencialmente, na aquisição, actualização e partilha de saberes e de experiências, sempre a partir da prática do diálogo e da tolerância.
Cada vez mais, no tempo que corre, vive-se aprendendo e aprende-se vivendo.

Aprende-se com todas as pessoas:
com as família, com a vizinhança, com os amigos, com os colegas de trabalho...

Aprende-se em todos os lugares:
na rua, em casa, na escola, no trabalho, nos centros de cultura e de lazer...

Aprende-se em todas as idades:
na infância, na adolescência, na juventude, na idade adulta, na velhice...

Aprende-se de todas as maneiras:
sentindo, pensando, ouvindo, sofrendo, reflectindo, alegrando-se, escrevendo, lendo, perguntando, respondendo, conversando, concordando, discordando...

Enfim, em todas as circunstâncias, quando há vontade e prazer em aprender, aprende-se mesmo!"

Ferreira, P. (2007). Guia do Animador na Formação de Adultos. Lisboa: Editorial Presença.

Facilidades vs Adversidades

"Se eu tiro a luz a uma planta, ela juntará todas as suas forças para conseguir reencontrá-la, as células apicais estender-se-ão espasmodicamente para descobrirem um orifício e, uma vez atingida a meta, a planta estará mais forte porque deparou com uma adversidade e conseguiu superá-la."

Susanna Tamaro, Escuta a minha voz

Os adultos que acompanho "queixam-se" muitas vezes da dificuldade do processo RVCC: "vocês são muito exigentes! então mas nunca mais acabo? quando é que chega? ainda só tenho esses créditos?". Nem sempre é fácil explicar, fazer compreender que as dificuldades, as adversidades servem precisamente para ganharmos novos recursos, novas aprendizagens, para dar mais valor ao esforço que fazemos... Muitas vezes desanimamos porque achamos que a mensagem não passa, sentimo-nos quase como se estivéssemos a falar "para uma parede", esbarramos em resistências. No entanto, na preparação para o Júri de Validação sinto sempre que valeu a pena, que afinal a mensagem passou, não pelo que dissemos, mas pelo que o adulto passou para lá chegar. Tem que ser a pessoa a sentir a adversidade e a perceber a sua importância no seu desenvolvimento. Processos fáceis? Acredito que existam, mas que diferença farão?... Acredito que quem pode fazer a diferença no futuro é quem sente a adversidade e a consegue vencer, pois sentir-se-á com mais força para enfrentar outros obstáculos que a vida lhe traga.

28.1.09

Uma "aula" especial

Ser profissional de reconhecimento e validação de competências é, realmente um privilégio, já o disse várias vezes. Mas é, também, uma enorme responsabilidade. Hoje tive um atendimento individual com um adulto que me tem marcado de uma forma muito especial. É um autodidacta, um poeta, um sonhador. É um homem que não se resigna ao passar dos anos, que cada vez procura saber mais, de diferentes formas. Hoje dizia-me com o seu sorriso de criança: "Sabe, eu perco-me, começo a pesquisar sobre uma coisa, aparece outra que me desperta a curiosidade e lá vou eu, perco-me entre tantas coisas fascinantes que vou descobrindo". Neste atendimento, como nos outros todos, senti-me pequenina, muito. Percebi a humildade que precisamos de ter, a humildade de que fala o Dr. João Lima, na reflexão e no desafio que nos deixa. Aquele senhor falou sobre história, sobre linguística, sobre mecânica, electrónica, poesia, economia, falou sobre a vida, sobre a escola, sobre a aprendizagem. E eu apenas fui sua aluna, curiosa, atenta, com os olhos rasos de lágrimas por aquilo que estava a ouvir e a presenciar. É para pessoas como esta que o processo RVCC foi criado e faz sentido. É justo, é imperativo.

25.1.09

Dar o nosso melhor

Hoje deixo este poema para reflectir... Nem sempre podemos ser ou fazer aquilo que queremos, por diversos motivos, mas o importante é tentarmos dar o nosso melhor no que estivermos a fazer.

Uma inspiração para uma nova semana que agora começa.


Se não puderes ser um pinheiro, no topo de uma colina,
Sê um arbusto no vale mas sê
O melhor arbusto à margem do regato.
Sê um ramo, se não puderes ser uma árvore.
Se não puderes ser um ramo, sê um pouco de relva
E dá alegria a algum caminho.

Se não puderes ser uma estrada,
Sê apenas uma senda,
Se não puderes ser o Sol, sê uma estrela.
Não é pelo tamanho que terás êxito ou fracasso...
Mas sê o melhor no que quer que sejas.


Pablo Neruda

Sinergias em acção

Na sexta-feira passada tive o prazer de estar presente no I Encontro de Centros Novas Oportunidades do Oeste, organizado pelo CNO Inês de Castro, de Alcobaça, sob o tema "Sinergias no Nível Secundário". Foi um dia cheio, do qual guardo sobretudo a importância das sinergias, do trabalho em equipa, da aprendizagem cooperativa. Mas qual é a novidade ou inovação nisto? Estamos sempre a ouvir falar destes temas, é verdade. Mas o motivo pelo qual se continua a falar, a insistir, é porque ainda estamos muito longe de o fazer ou de o conseguir na prática. Todos os que trabalham nesta área sabem (e queixam-se) da falta de articulação e de trabalho em rede. E o que é que já fizeram para o conseguir?... Nada nasce apenas das palavras, dos desejos ou das intenções, é preciso acção, mudanças concretas, palpáveis. Uma das coisas que resulta deste Encontro é precisamente uma data agendada entre entidades locais, para definição de parcerias e estratégias comuns. Parece-me um passo em frente no que se tem feito ao nível destes eventos. É assim que se começa a delinear um novo futuro. Parabéns à equipa, na pessoa da sua coordenadora, a Dr.ª Anabela Luís, por o ter conseguido!

23.1.09

Todas as pessoas têm um sonho

Há coincidências engraçadas... Hoje tive a oportunidade e o privilégio de assistir a uma palestra do Prof. Mark Savickas, um mestre na área da psicologia de orientação e aconselhamento de carreira. Fiquei fascinada pela sua humildade, pela capacidade de se colocar lado a lado connosco e de nos levar por uma viagem pela importância do planeamento de carreira. Da sua cativante intervenção, saliento duas ideias, que vão ao encontro daquilo que tenho tentado transmitir aqui e noutros contextos. Todas as pessoas têm um sonho. Todas as pessoas têm sabedoria dentro delas, nós só temos que as ajudar a ouvirem-se a si mesmas. E não é isso que tentamos fazer no processo de reconhecimento de competências, como já aqui referi?...
Ficam dois recursos para nos ajudarem a reflectir, que poderão também servir como estratégias de motivação para os adultos (desde que devidamente explorados em conjunto com o profissional), sobretudo na construção do seu plano de desenvolvimento pessoal, em que devem assumir uma postura pró-activa.




21.1.09


"Entre a multidão há homens que não se destacam, mas são portadores de prodigiosas mensagens. Nem eles próprios o sabem."

Antoine de Saint-Exupéry


Trabalhar com adultos dá-nos a possibilidade de conhecer homens como os que fala Saint-Exupéry. Homens que andam toda uma vida a trabalhar, a lutar, que aprendem em diversos contextos e de variadíssimas formas, que constroem uma família, que contribuem para o desenvolvimento de um país, homens que muitas vezes não sabem que sabem, que sorriem como crianças envergonhadas quando lhes dizemos "está a ver, aquilo que sabe é muito mais do que pensa, só tem que acreditar nisso!". Poder partilhar da transformação interior que muitos destes homens vivem é, sem dúvida, um privilégio, que acaba por superar muitas das dificuldades que sentimos. É inexplicável a sensação quando um adulto nos diz: "hoje sinto-me diferente, desde que iniciei o processo RVCC que percebo que sou alguém, que sou importante"... É isto que muitas vezes dá sentido ao nosso dia.

20.1.09

Literacia emocional

"À capacidade de ler os afectos nos outros chamamos literacia emocional, e devia ser uma capacidade tão presente e desenvolvida em cada um de nós como a de ler, escrever e contar. (...) Hoje, grande parte dos problemas que enfrentamos têm como base uma profunda literacia emocional, isto é, uma incapacidade de ler e respeitar o mundo emocional dos outros... A causa? A incapacidade de muitos adultos de se lerem a eles próprios em sociedades que investem profundamente no exterior esquecendo o interior, desprezam os sentimentos achando-os um entrave ao pensamento (quando são a sua base), não compreendem as ligações da parte física à psíquica, ignoram a importância do bem-estar individual para o social e não criam espaços de aprendizagem e trabalho saudáveis e criativos."
Pedro Strecht. (2004). Quero-te Muito. Crónicas para Pais sobre Filhos. Lisboa: Assírio & Alvim.

A "literacia emocional" de que Pedro Strecht nos fala faz-me pensar em muitas situações, em muitos contextos. Mas neste momento faz-me sobretudo pensar na importância da literacia emocional no trabalho com adultos, seja em formação, em processos RVCC ou outros. Ter a capacidade de "ler" os afectos, os sentimentos, as emoções, ser humano, estar com e para. E o que digo não tem nada a ver com o "psicologizar" estes processos (embora essa seja uma tentação e um risco, sobretudo de quem vem da área de Psicologia), mas apenas com o "humanizar". Ouço falar de números, de centenas, de milhares... é algo que me faz muita confusão. Quem fala das pessoas que estão por detrás dos números?... Nós trabalhamos com pessoas, com seres humanos! Era importante que se pensasse mais nisso... nas pessoas, só por si. Era importante aprender a ler... afectos, emoções e sentimentos... para lá dos números...

18.1.09

A linha da vida

O Balanço de Competências contempla não só uma viagem ao passado, mas também uma viagem ao interior de si próprio. Essa viagem continua no tempo actual e é projectada para o futuro, sem nunca esquecer de vista as competências, mas também sem esquecer aquilo que é a pessoa, o que fez, em que contextos se moveu, o que contribuiu para o rumo que a sua vida tomou, o que pode mudar para (re)formular o projecto.

"Exigente, equilibrada e diversificada, a história de vida construída rejeita, em termos teóricos, ser só cognitivista (enfatizando o escolar), como também enjeita a perspectiva predominantemente psicologista (centrada quase só na personalidade e descurando as competências)."
Nogueira, I. (2002). Projecto EFA. In Silva, I., Leitão, J., Trigo, M., Educação e Formação de Adultos: Factor de Desenvolvimento, Inovação e Competitividade. ANEFA, pp. 77-83.

A viagem de cada pessoa que aceita o desafio de realizar um balanço de competências acontece através daquilo a que podemos chamar a "linha da vida"...

Um novo percurso que nasce numa encruzilhada

Este espaço surge da vontade de reflectir e partilhar algumas ideias, imagens, materiais, textos, músicas, enfim, tudo o que tantas vezes me faz pensar a educação, sobretudo a educação de adultos, e a aprendizagem ao longo da vida.
Sejam bem-vindos!