9.2.09

Homenagem ao "meu herói"


Hoje perdi aquele a quem chamava o meu "herói" do processo RVCC. O Sr. Manuel e a esposa encontravam-se a realizar o seu processo de 9.º ano quando lhe foi diagnosticada a doença. Fui das primeiras a saber e a apoiar, como pude, sem saber muito bem o que fazer ou dizer. O meu primeiro pensamento foi "eles não podem desistir". Já sabia que essa ia ser a primeira decisão, mas não podia deixar que não cumprissem, ambos, um dos seus maiores sonhos: concluir a escolaridade que não conseguiram em tempos, por dificuldades enconómicas e sociais. Conversámos e combinámos que iam continuar à medida que conseguissem, pois nós dar-lhes-íamos todo o apoio. Assim foi, sessão a sessão, o Sr. Manuel foi fazendo o seu processo e ganhava uma nova vida nas sessões. Eu, os colegas de grupo, os formadores ajudámos a manter o espírito positivo, até que chegou o dia de Júri. Foi um dos dias mais marcantes da minha vida. No final todos choraram de tristeza, talvez até de pena, menos eu. Chorei por dentro, para que ele não me visse, mas de felicidade, pois sentia no seu olhar, nas suas palavras, na sua energia, que um sonho tinha acabado de ser concretizado. Ambos sabíamos que poderia ser o último.

Chegou o dia da entrega dos Diplomas, nova emoção. Quis tirar uma fotografia para recordação, eu tentei sorrir, o Sr. Manuel e a esposa tentaram evitar as lágrimas. Sabíamos que era a última fotografia que tirávamos juntos. Desde o processo que ficou uma amizade, uma união muito especial entre nós. A esposa continuou para o 12.º ano, ele vinha visitar-me várias vezes. Dizia-me "gosto muito de a vir visitar, o seu sorriso faz-me bem". No final abraçávamo-nos sem nada dizer. Nem "até breve", nem "adeus". Apenas um abraço, sincero, amigo. E no final, o olhar. Ambos disfarçávamos e dávamos o nosso melhor sorriso.

Não me esqueço de nenhum dos "meus" adultos, mas sem dúvida que o Sr. Manuel foi um dos que mais me marcou e será sempre o meu "herói", o maior lutador que conheci para levar o seu processo até ao fim e o que despertou o melhor de mim, não só enquanto profissional, mas sobretudo enquanto pessoa. Vou sentir falta da energia, da vontade de viver, dos abraços, mas mais do que tudo, dos sorrisos... Mas o Sr. Manuel ficará sempre nas minhas memórias mais doces!

3 comentários:

  1. Fico emocionada ao ler as suas palavras, sei que lhe saiem do coração, só provam que cada adulto em processo não é, para si, apenas mais um número. É bom saber que o "nosso" CNO tem profissionais desta categoria, com capacidade e humildade de se abrirem às emoções dos formandos e acima de tudo de aprenderem com as histórias de vida de cada um de nós.
    Concerteza que esse Sr. Manuel é mais uma estrelinha a brilhar no céu, a olhar por alguém...

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  2. Que lindo!Embora triste mas, lindo o que escreveu sobre ele, fez-me chorar. Era sem dúvida uma pessoa muito querida, por isso não é dificil,ele deixar tanta saudade. Também tenho a certeza, que ele é uma das lindas estrelinhas a brilhar no céu.

    Um beijinho grande
    Fátima Gírio

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  3. Querida Mafalda!
    Quero dar-te um abraço bem forte, um abraço amigo e fraterno. O Sr Manuel deixou aqui um pouco da sua luz contigo e, graças a ti, deixou-a também para nós. Obrigada pela partilha desse sentimento tão profundo que vai para além do ser, alcança dimensões inefáveis, aquelas que intuimos existirem mesmo depois da vida dos sentidos...
    Um beijo, pelo grito silencioso que as tuas palavras lançam no tempo, gravando-as na cera da nossa memória sentimental colectiva, que nos liga irremediavelmente uns aos outros, todos, sem excepção, nesta dimensão e para além dela...
    Um beijo e um abraço não chegam, mas vou deixá-los aqui para ti...
    ....
    Anabela

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