27.2.09

Histórias de vida

"Histórias. Toda a nossa vida gira à volta das histórias que ouvimos, lemos, vemos e sonhamos. Somos movidos pelas histórias que nos inspiram, emocionam, impressionam - e dão o sentido e os sentidos que, acreditamos, a vida tenha.
As histórias são, na sua imaterialidade, a forma concreta de percebermos e sentirmos a matéria de que são feitos os sonhos e de que é feito esse sonho principal que é a nossa vida, a nossa existência - o nosso corpo e o nosso tempo.
O tempo - o que é o tempo, a duração, é um mistério. E do tempo e do seu mistério temos um sinal: a memória, que organizamos como uma história, com princípio, meio e fim, por vezes, é claro, não por esta ordem.
As histórias da nossa memória são histórias onde nós somos personagens. Nós ou, mais exactamente, o que nós fomos. Mas é nessas personagens dessas histórias de amor, amizade, coragem, cobardia, maluquice, banalidades, fugas, fulgurações, etc, etc, etc, nessas histórias sempre meio inventadas que encontramos sempre a meia verdade do que somos hoje.
Foi o Paul Auster que disse que «a memória é o sítio onde as coisas acontecem pela segunda vez». Uma história de vida, contada a partir da memória do que se viveu, é uma história que acontece pela segunda vez para quem a conta. Mas, se é uma história que deve ser contada, ela é a história devida por cada um ao grande mapa das histórias do mundo e a todos os que a querem ler ou ouvir pela primeira vez."

Nuno Artur Silva, in "Histórias Devidas"

Fica apenas uma pequena amostra do que acontece todos os Domingos, às 13h, na Antena 1, com Inês Fonseca Santos e Miguel Guilherme.

23.2.09

Ver novos mundos...

Balanço de Competências

Na sequência do post anterior, deixo uma publicação, da autoria da Dr.ª Madalena Estêvão, que considero extremamente clara no que diz respeito àquilo que é o Balanço de Competências (na perspectiva mais lata, que não apenas a do processo RVCC). E aconselho vivamente uma visita ao site da Iniciativa Equal. Boas leituras!

BC_Equal

Motivação

Como profissional RVC cada vez tenho mais noção da responsabilidade das funções que desempenho. E essas funções extravazam em muito aquilo que está definido formalmente. Uma das funções mais importantes, para mim, é a motivação dos adultos que acompanho. Motivar não é tão difícil como pode parecer. Primeiro há que conquistar a pessoa. Para isso, é necessário conhecê-la, dar espaço para que ela se mostre e até se descubra melhor a si própria. Durante essa fase temos que estar muito atentos, para começarmos a perceber as potencialidades daquela pessoa que temos à nossa frente. Quando isso acontecer, temos que nos tornar um espelho, ou seja, devolver-lhe o que de mais positivo ela nos mostra. Se pensarmos em nós próprios, quantas vezes achamos que não valemos nada, que o que dizemos não é importante, que o que fazemos não tem utilidade?... Acontece-nos a todos, em tantos momentos da nossa vida! No entanto, quando temos alguém que nos diz o contrário, paramos e pensamos: "secalhar até é verdade...". E se continuarmos a ouvir o mesmo, várias vezes, em diversos momentos, começamos a acreditar que realmente talvez seja mesmo verdade! E parece que nos sentimos mais fortes, mais capazes, parece até que conseguimos fazer coisas que nunca pensámos vir a fazer!... É isso que penso que devemos fazer com os adultos que acompanhamos: estar atentos, reforçar positivamente, incentivar, ser constantes, perseverantes. Temos que ajudar a pessoa a reconstruir a sua imagem, aquela imagem que tem de si própria quando se vê ao espelho e que, regra geral, não é muito positiva. Para isso é preciso tempo, dirão alguns. Eu penso que o tempo pode ser o que fazemos com ele. Numa hora com um adulto podemos fazer tanto! Basta estar disponível e mostrar-lhe o que o espelho mostra de melhor... Outros dirão certamente que isto não é um processo terapêutico. É verdade, não é. Mas de que parte o Balanço de Competências, a metodologia de base dos processos de reconhecimento e validação de competências? Precisamente da promoção do autoconhecimento e da autovalorização das pessoas. Porque quando se transformam estas duas variáveis, tudo o resto se começa também a transformar.

Devia-se falar mais na importância da motivação na educação de adultos. Devia-se falar mais em balanço de competências. Devia-se ter tempo, dar tempo. Pensa-se demasiado nos números, estão-se a esquecer as PESSOAS.

18.2.09

Uma escalada ao interior de si próprio

Há muito tempo que comparo o Balanço de Competências a uma escalada que fazemos ao interior de nós próprios. E digo "nós" porque a metodologia de Balanço de Competências pode ser aplicada em diversos contextos e a diferentes destinatários. Todos nós podemos (devemos?...) fazer um balanço das nossas competências. Ao fazê-lo, (re)descobrimos muitas vezes o quanto podemos ir mais longe e como podemos (re)construir o nosso projecto de vida.

13.2.09

Os portefólios podem dar asas!


Acompanho três adultas há mais de um ano, no processo RVCC de Nível Secundário. Hoje chegou o dia em que entregaram os seus portefólios reflexivos de aprendizagens para se apresentarem a Júri brevemente. São sempre dias de ansiedade, de pressão, de angústia para se conseguir ter tudo terminado a tempo e horas. Nestes dias, há uma pequena "revolução" no Centro. A agitação é muito grande, a emoção forte. Às vezes há lágrimas que caem sem pedir licença, outras vezes contêm-se, mas não se disfarçam, o brilho no olhar é forte demais. O orgulho é maior que todo o esforço e sacrifício que fizeram ao longo de cerca de 13 meses. Os portefólios são um espelho da vida que estas adultas tiveram, daquela com que sonham e se projectam no futuro.

Olho para os portefólios em cima da minha secretária e revejo neles cada uma delas. As imagens, as capas, as dedicatórias, as reflexões finais... Tudo é grande demais para caber nas palavras que queremos dizer umas às outras. Abraçamo-nos, choramos e rimos, cada uma à sua maneira. Quatro mulheres que não foram simplesmente orientadora ou candidatas, mas companheiras nesta caminhada tão frutífera. Ao fim do dia olho novamente para os portefólios em cima da mesa. Apetece-me guardá-los para sempre, ficar com um bocadinho delas também. Releio-os vezes sem conta, sobretudo as introduções e as conclusões. Penso para mim: "o que vos vai ficar no fim disto tudo? o que serão daqui a 10 anos? implementarão os vossos projectos, os vossos sonhos?...".

No final, apenas vos desejo uma coisa: sejam felizes, muito felizes, porque são mulheres inspiradoras e dignas de tudo o que têm à vossa espera! O mundo é uma incógnita, as oportunidades nem sempre são as mais favoráveis, mas vocês já provaram que são capazes de mudar o rumo de cada uma das vossas histórias! Acima de tudo, saiam do casulo onde estiveram tanto tempo, e voem, agora com umas asas novas, mais fortes, eu sinto!

Um beijo enorme a cada uma de vocês, por terem mostrado o que são, por terem aberto o vosso coração comigo. Vou ter saudades vossas, mas comigo ficará sempre tanto, tanto de vocês!...

9.2.09

Homenagem ao "meu herói"


Hoje perdi aquele a quem chamava o meu "herói" do processo RVCC. O Sr. Manuel e a esposa encontravam-se a realizar o seu processo de 9.º ano quando lhe foi diagnosticada a doença. Fui das primeiras a saber e a apoiar, como pude, sem saber muito bem o que fazer ou dizer. O meu primeiro pensamento foi "eles não podem desistir". Já sabia que essa ia ser a primeira decisão, mas não podia deixar que não cumprissem, ambos, um dos seus maiores sonhos: concluir a escolaridade que não conseguiram em tempos, por dificuldades enconómicas e sociais. Conversámos e combinámos que iam continuar à medida que conseguissem, pois nós dar-lhes-íamos todo o apoio. Assim foi, sessão a sessão, o Sr. Manuel foi fazendo o seu processo e ganhava uma nova vida nas sessões. Eu, os colegas de grupo, os formadores ajudámos a manter o espírito positivo, até que chegou o dia de Júri. Foi um dos dias mais marcantes da minha vida. No final todos choraram de tristeza, talvez até de pena, menos eu. Chorei por dentro, para que ele não me visse, mas de felicidade, pois sentia no seu olhar, nas suas palavras, na sua energia, que um sonho tinha acabado de ser concretizado. Ambos sabíamos que poderia ser o último.

Chegou o dia da entrega dos Diplomas, nova emoção. Quis tirar uma fotografia para recordação, eu tentei sorrir, o Sr. Manuel e a esposa tentaram evitar as lágrimas. Sabíamos que era a última fotografia que tirávamos juntos. Desde o processo que ficou uma amizade, uma união muito especial entre nós. A esposa continuou para o 12.º ano, ele vinha visitar-me várias vezes. Dizia-me "gosto muito de a vir visitar, o seu sorriso faz-me bem". No final abraçávamo-nos sem nada dizer. Nem "até breve", nem "adeus". Apenas um abraço, sincero, amigo. E no final, o olhar. Ambos disfarçávamos e dávamos o nosso melhor sorriso.

Não me esqueço de nenhum dos "meus" adultos, mas sem dúvida que o Sr. Manuel foi um dos que mais me marcou e será sempre o meu "herói", o maior lutador que conheci para levar o seu processo até ao fim e o que despertou o melhor de mim, não só enquanto profissional, mas sobretudo enquanto pessoa. Vou sentir falta da energia, da vontade de viver, dos abraços, mas mais do que tudo, dos sorrisos... Mas o Sr. Manuel ficará sempre nas minhas memórias mais doces!

6.2.09

Pérolas

Há pouco recebi esta apresentação de um adulto que acompanho. Fazia-se acompanhar de uma mensagem especial, que me fez ver que há mesmo "pérolas" no nosso dia-a-dia e que aquilo que tentamos fazer, às vezes com tanto sacrifício, dá sempre os seus frutos! Eu é que tenho tanto, mas tanto a agradecer por tudo quanto tenho aprendido com todos os adultos que tenho acompanhado nesta caminhada! Não haverá nunca palavras para reproduzir como a minha vida é mais rica por cada uma das pessoas que já passou por mim!
Bom fim-de-semana para todos os que me acompanham nestes "percursos da vida"!

4.2.09

A teoria humanista na Educação de Adultos

"A educação de adultos humanista procura «facilitar o processo de aprendizagem», por oposição ao ensino. Facilitar o processo de aprendizagem na educação de adultos é o equivalente a criar as condições óptimas para o desenvolvimento humano na psicologia humanista. A aprendizagem do adulto é, assim, equiparada ao crescimento pessoal e desenvolvimento do adulto, isto é, à auto-realização. O papel do formador de adultos centra-se, deste modo, principalmente no ambiente de aprendizagem, onde tem de criar as condições óptimas para o autodesenvolvimento. Tal como na psicologia humanista, a educação de adultos humanista acredita que a pessoa não cresce, isto é, não aprende, se a experiência de aprendizagem não for significativa."

Finger, M., Asún, J. (2003). A educação de adultos numa encruzilhada. Porto: Porto Editora.