26.4.09

Sentidos

E não me deixará perder o sentido da minha vida - concluiu com as suas próprias palavras.

Certa tarde, voltou para casa mais cedo do que os costume, e encontrou a viúva sentada na soleira da porta.
- O que está a fazer?
- Nada tenho que fazer - respondeu ela.
- Então aprenda algo. Neste momento, muitas pessoas já desistiram de viver. Não se aborrecem, não choram, esperam apenas que o tempo passe. Não aceitaram os desafios da vida, e a vida já não as desafia mais. A senhora também corre esse perigo; reaja, enfrenta a vida, mas não desista.
- A minha vida voltou a ter um sentido - disse ela, olhando para baixo - desde que o senhor chegou.
Elias resolveu interromper imediatamente a conversa, porque não sabia como continuá-la.
- Comece a fazer alguma coisa - disse, mudando de assunto. - Assim o tempo será um aliado, e não um inimigo.
- O que posso aprender?
Elias pensou um pouco.
- A escrita de Biblos. Será útil, se tiver que viajar um dia.
A mulher resolveu dedicar-se àquele estudo de corpo e alma. Jamais pensara em sair de Akbar mas - pelo modo como ele falara - talvez estivesse a pensar lavá-la com ele.
Sentiu-se livre novamente. Novamente, acordou de madrugada, e caminhou sorrindo pelas ruas da cidade.


Paulo Coelho, in O Monte Cinco

Este pequeno texto faz-me sempre recordar as diferentes motivações que tem quem decide fazer um processo de reconhecimento de competências. E lembro-me, sobretudo, de um senhor que acompanho, que é, simplesmente, excepcional. Durante algum tempo, como Profissional, tive receio que o processo não estivesse a ser minimamente interessante para este senhor. Para além de centenas de horas de formação em que foi investindo ao longo da sua vida, é um autodidacta, que se interessa por diversas áreas, como astronomia, física, literatura, história, arte, entre muitas outras. Conta-me imensas histórias, ensina-me, sinto-o e trato-o quase como um professor, um mestre, daqueles que às vezes pensamos que já não existem. E, por tudo isto, tinha medo que o processo estivesse a ser monótono, desinteressante, sem nada de aliciante. Mas qual não foi o meu espanto quando, um dia, este senhor me diz: "vir fazer o RVCC foi a melhor coisa que me podia ter acontecido!". A minha surpresa e curiosidade foram grandes, e procurei saber porquê. "Porque eu sempre estudei e pesquisei muito, mas agora tudo o que procuro saber e recordar tem um objectivo". Fiquei a reflectir e a pensar que, de facto, há diferentes motivações para realizar este processo, e ter um objectivo, encontrar um sentido para a sua vida pode ser uma delas. Algo que parece tão simples, mas que é de facto tão importante e que pode fazer tanta diferença no dia-a-dia!

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