Um dos princípios básicos para trabalhar na educação de adultos, na minha opinião, é acreditar no potencial das pessoas, nas suas competências, nos seus saberes e na capacidade que têm de aprender e evoluir sempre mais. Por isso, é com tristeza que ouço alguns colegas falarem dos adultos que acompanham de uma forma tão distante e tão desfasada da realidade. "Não sabem escrever, nem reflectir, nem mexer num computador, nem falar uma língua estrangeira, nem têm cultura, nem, nem...". E do que os adultos sabem fazer? Raramente ouço alguém falar, infelizmente. Quantas vezes nos preocupamos em nos sentarmos e conversarmos com a pessoa que temos à nossa frente, com tempo e vontade para entender as suas reais competências? São os adultos que acompanhamos que têm construído o nosso país. É certo que em alguns campos podemos estar muito abaixo das médias europeias, mas noutros estamos muito acima, e é graças a essas pessoas, que todos os dias, ao longo da sua vida, têm aprendido a lutar e a superar as adversidades. Pessoas que sabem mais do que eu ou do que muitos dos técnicos que as acompanham, nas mais diversas áreas, quer a nível profissional, quer pessoal, quer social.
Muitas das pessoas que mais marcaram a minha vida são analfabetas ou têm baixas habilitações, não sabem escrever ou fazem-no com dificuldade, não mexem num computador e apenas ouvem falar em "internet", sem no entanto conseguirem compreender o que é ou como funciona, mas isso não faz delas pessoas menores, pelo contrário. Muitas vezes são estas pessoas que nos dão verdadeiras lições de cidadania, de educação, de partilha, de respeito pelos outros. E para isso não há UFCD, ou Cursos EFA, ou sequer Licenciaturas ou Mestrados que valham. Isso só se aprende na e com a vida. Por isso, tenho sempre muito respeito e admiração pelos adultos que acompanho. E é uma pena ouvir técnicos e supostos profissionais desta área falar assim. Porque enquanto não acreditarmos nas pessoas e na sua capacidade e vontade de empreender e aprender, ficaremos sempre aquém daquilo que se espera com estes processos, que dependem, em larga medida, do nosso empenho, comprometimento e atitude, enquanto profissionais.